"Os desenvolvimentos mais recentes trouxeram, para a universidade e para o ensino da literatura nela, uma crescente pragmatização que significou também uma didactização e banalização da disciplina. O saber aplicado torna-se dominante, a dependência da universidade face a um «mundo da vida» de perfil economicista fez definhar o excedente crítico e mesmo utópico tradicionalmente associado à relação com o literário. A isto vem juntar-se o domínio de um pensamento nivelador, desprovido de ideias e mesmo hostil às ideias, de marca utilitarista e relativista, que justifica e apoia tudo em nome do que se apresenta como pretensamente «actual». A crise está instalada, mas os novos mandarins da contingência não querem reconhecê-la como tal e preferem falar de reformas e das grandes mudanças em curso. As crises também já não são o que eram: hoje estão aí para serem geridas, e não ultrapassadas, vive-se alegremente com elas."
João Barrento, A Chama e as Cinzas, Lisboa: Bertrand Editora, 2016, pp. 184-185.
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