"Infindáveis voos
de aves a gritar, pairando
baixo sobre as águas,
de longe parecem ilhas
à deriva, há baleias à roda
do barco cuspindo alto para o ar
esguichos em todas as direções
da bússola. Chamisso, que
mais tarde, na expedição de Romanzov,
foi tomado de espanto diante desse mesmo
quadro gigantesco, ficou com a ideia
de que talvez se pudesse domesticar
aqueles animais e - como gansos em
terra maninha - guiá-los pelo mar fora,
por assim dizer, com uma vara, como um rebanho.
Criar os juvenis num fiorde, escreveu ele,
passar-lhes sob as barbatanas peitorais
uma coleira com picos suportada por bolsas de ar,
fazê-las desaprender a mergulhar,
tentar experiências. Se as baleias servem para
puxar ou empurrar, para atrelar ou
carregar e como, se se deve arreá-las ou
dirigi-las e como será o cornaca
destes elefantes do mar, tudo isso
se descobrirá a seu tempo. Aliás, no princípio,
Chamisso diz também que a máquina a vapor
foi o primeiro animal de sangue quente
saído das mãos do homem."
W. G. Sebald, Do Natural - um poema elementar, trad. Telma Costa, Lisboa: Quetzal Editores, 2012, pp. 58-59.
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