Sunday, April 25, 2021

DILUCIDADO

 



"O nada é um carteiro vegetal, 
a clínica encerrada e misteriosa,
o tacto diluído que repousa, 
o gozo do dilúvio universal.

A tarde do estio mineral
que salta envolta no mundo, ela é a fossa
onde tudo sonha, furiosa, 
esfumado tudo, eterno sal. 

O nada é a ebriedade de estar perdido, 
o abandono da geometria, 
cisne da fronteira devorada.

Humana pedra, lago convertido
em solidão, a máquina vazia. 
Tudo dilucidado: isso é o nada."


Jesús Lizano, Mundo Real Poético, selec. e trad. Carlos d'Abreu, Lisboa: Barricada de Livros, 2019, p. 125. 

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