"Devaneio repugnante. Em breve a noite lhe pareceu mais sombria, mais terrível do que qualquer outra noite, pensamento que já não se pensava, do pensamento tomado ironicamente como tema por algo que não o pensamento. Era a própria noite. Imagens que faziam a sua escuridão inundavam-no. Ele não via nada e, longe de ficar abatido, fazia dessa ausência de visão o ponto culminante do seu olhar. O seu olho, inútil para ver, adquiria proporções extraordinárias, desenvolvia-se de um modo desmesurado e, estendendo-se pelo horizonte, deixava a noite penetrar no seu centro para aí receber o dia."
Maurice Blanchot, Thomas o Obscuro, trad. Manuel de Freitas, Silveira: E-Primatur, 2021, pp. 15-16.
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