"Do oiro do velho azul, em avalanches, desde
A origem e da neve eterna como os astros
Outrora desprendeste os cálices pendendo
Para a terra tão jovem e virgem de desastres,
O gladíolo fulvo e com perfil de cisne
E o louro divinal das almas exiladas
Rubro como o artelho puro do serafim
Corando do pudor das auroras pisadas,
O jacinto, o mirto adorável de ardor
E a rosa, carnação viva de uma mulher,
Herodíade em flor, cruel, do claro horto,
Aquela que o esplendor dum sangue feroz rega!
Fizeste a branca luz em soluços dos lírios
A rola sobre um mar de suspiros que aflora
No incenso azul dos horizontes lívidos
Ascendendo a sonhar para a lua que chora!
Hossana sobre o sistro e alçando o turíbulo,
Nossa senhora, hossana a florir destes limbos!
E que o eco se vá por celestes vigílias
Êxtase dos olhares e cintilar dos nimbos!
Ó Mãe, que concebeste no seio justo e forte,
Cálices a balançar numa futura ânfora,
Grandes flores a abrir a balsâmica Morte
Para o poeta exausto a quem a vida fana."
Stéphane Mallarmé, Poesias, trad. José Augusto Seabra, Lisboa: Assírio & Alvim, 2004, p. 47.
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