"O pensar contra «os valores» não afirma que tudo aquilo que se declara como «valores», a «cultura», a «arte», a «ciência», a «dignidade do homem», «mundo» e «Deus», seja sem valor. Ao contrário, importa, finalmente, reconhecer que, justamente pela caracterização de algo como «valor», rouba-se a dignidade daquilo que é assim valorado. Isto quer dizer: ao avaliar algo como valor, aquilo que foi valorado é apenas admitido como objecto para a avaliação pelo homem. Mas aquilo que é algo em seu ser, não se esgota em sua objectividade e, sobretudo, de modo algum então, quando a objectividade tem o carácter de valor. Todo valorar, mesmo onde é um valorar positivamente, é uma subjectivação. O valorar não deixa o ente ser, mas todo valorar deixa apenas valer o ente como objecto do seu operar. O esdrúxulo empenho em demonstrar a objectividade dos valores, não saber o que faz. Quando se proclama «Deus» como «o valor supremo», isto significa uma degradação de Deus. O pensar através de valores é, aqui, e em qualquer outra situação, a maior blasfémia que se pode pensar em face do ser. Pensar contra os valores não significa, portanto, propagar que o ente é destituído de valor e que é sem importância; mas isto significa: levar para diante do pensar a clareira da verdade do ser contra a subjectivação do ente em simples objecto."
Martin Heidegger, Carta sobre o humanismo, trad. Arnaldo Stein, Lisboa: Guimarães Editores, 1973, pp. 97-98.
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