"Parecia-lhe que o carro era um Ford de 1928 ou 1929. - M'nha senhora - disse, e voltou-se para a mulher, concentrando nela toda a sua atenção - deixe dizer-lhe uma coisa. Um desses médicos que praí há, um fulano de Atlanta, pegou num bisturi e cortou o coração humano... o coração humano - repetiu, curvando-se para diante - pra fora do peito duma pessoa e depois segurou-o na mão - e estendeu a mão aberta, com a palma voltada para cima, como se nesta segurasse o peso ligeiro do coração humano - e então pôs-se a olhar pràquilo como se fosse um pinto nascido na véspera, e m'nha senhora - concluiu, deixando que decorresse uma longa pausa significativa em que a cabeça lhe deslizou para a frente e os olhos cor de barro que brilharam -, ele não ficou a saber mais sobre o coração humano que a senhora ou eu."
Flannery O'Connor, Um Bom Homem É Difícil de Encontrar e Outras Histórias, trad. Paulo Faria, Lisboa: Relógio d'Água, 2015, p. 51.
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