Monday, May 9, 2022

VOLUPTAS

 



"A primavera chegara mais cedo numa abundância de seiva.
A natureza acordava em miríades de rumores. 
A folhagem trémula, nova, dum verde tenro e claro, balançava-se sob a pressão genésica dos insetos na ânsia de se multiplicarem, mordendo-se frementes e insaciados.
A terra abria as suas entranhas em rubras emanações, fecundada pelo sol. 
O espasmo glorioso da reprodução acendia-se e crepitava em toda a parte, desde o escarpado dos montes até  aos mais ignorados recantos. 
A asa rubra do desejo, palpitando, irmanava os seres da mesma angústia, no mesmo ardor, na mesma ânsia...
Um sopro de volúpia turbador e excitante subia em eflúvios cálidos, pondo nas almas uma nova alegria de viver."


Judith Teixeira, "Satânia", in Poesia e Prosa, org. Cláudia Paços Alonso e Fabio Mario da Silva, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2015, p. 301. 

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