"Agora eu digo, Fernando, que naquele dia
O espírito vadiava como vadia uma traça,
Entre as flores para lá do areal imenso;
E que o mínimo rumor do vaivém das ondas
Nas algas marinhas e nas pedras submersas
Não incomodava nem o mais ocioso ouvido.
Foi então que aquela monstruosa traça
Que ficara imóvel pregada no azul
E no púrpura colorido do mar preguiçoso,
E dormitara ao longo de litorais ossudos,
Surda para a conversa que as águas fiavam,
Se ergueu perlada e buscou o rubro ardente
Salpicada de pólen amarelo - tão rubro
Como a bandeira no cimo do velho café -
E por ali vadiou toda a estúpida tarde."
Wallace Stevens, Harmónio, trad. Jorge Fazenda Lourenço, Lisboa: Relógio D'Água, 2006. p. 59.
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