Sunday, July 10, 2022

CABELOS DOURADORES

 



"Bem pode sobre o cândido Oriente
Soltar Febo os cabelos douradores, 
Que quem vive como eu, vê sempre as flores
Tintas da negra cor do mal que sente. 

Para mim não há prado florescente, 
Tudo murcham meus ais, meus dissabores, 
Nem me tornam cantigas dos Pastores
Jamais serena a pensativa frente. 

Se triste vou às danças, triste venho; 
E quando a noite estende húmido manto, 
A segurar o sono em vão me empenho. 

Não toco a flauta, versos já não canto; 
Cercada de pesar, mais bem não tenho
Que um triste desafogo em terno pranto."


Marquesa de Alorna, Poesias, selec. Hernâni Cidade, Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1941, p. 13. 

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