"Às vezes as palavras querem ver o que dizem
e a morte estremece atrás da sua máscara
por momentos o pânico sobe aos olhos do poema
porque o mundo ameaça coincidir com o mundo.
Mas da areia da sede os secretos felinos lançam
olhares furtivos,
são agora os meus listrados tigres brônzeos
e saltam o obstáculo dos seus nomes rolantes.
Querem ser mais que oníricos, mais que pura cadência
e atravessam o deserto exterior ao deserto
vão direitos às sombras dos seus saltos futuros
e gulosos devoram o corpo exangue da miragem:
estão hostis estão cativos na sua errância lúdica.
Agora que farei com a tua imagem dilacerada
se para voltar a ter-te deves deixar de existir?
Perseguição, volúpia, os meus tigres disparam-se
a minha solidão deita-se ao sol dentro do nome,
o poema está nu, agora que estou nu, e vacilamos,
loucos guerreiros são as palavras contra a morte."
Laureano Silveira, Os Secretos Felinos, Porto: Limiar, 1991, p. 46.
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