"A ideia da inocência olha em duas direcções. Ao recusar a participação numa conspiração, ficamos dela inocentados. Mas permanecer inocente pode ser também permanecer ignorante. A questão não está em escolher entre a inocência e o conhecimento (ou entre o natural e o cultural), mas antes numa escolha entre uma abordagem completa da arte que tente relacioná-la com todos os aspectos relevantes da experiência e a abordagem esotérica de um punhado de especialistas que formam um sacerdócio devotado nostalgicamente a uma classe privilegiada no seu declínio. (Declínio, não diante do proletariado, mas ante o novo poder das empresas e do Estado.) A verdadeira questão será: a quem deve pertencer o poder da arte do passado? Àqueles que conseguem aplicá-lo às suas próprias vidas ou a uma hierarquia cultural de especialistas de relíquias?"
John Berger, Modos de Ver, trad. Jorge Leandro Rosa, Lisboa: Antígona, 2018, pp. 45-46.
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