"Muito obrigado pelas nuvens.
Muito obrigado pelo cravo bem temperado
e, por que não, pelas botas de Inverno forradas.
Muito obrigado pelo meu cérebro singular
e pelos outros órgãos todos que não estão à vista,
pelo ar, e naturalmente pelo vinho de Bordéus.
Muito agradecido por não se me acabar o isqueiro,
e os agudos anseios, e a piedade, a incessante piedade.
Muito obrigado pelas quatro estações,
pelo algarismo e e pela cafeína,
e claro pelos morangos no prato
pintado por Chardin, e também pelo sono,
pelo sono muito especialmente,
e, não vá eu esquecer-me,
igualmente pelo início e pelo fim
e pelos minutos de permeio,
um obrigado muito encarecido,
e por que não também pelas toupeiras lá fora no jardim."
Hans Magnus Enzensberger, 66 poemas, trad. Alberto Pimenta, s. l.: Edições do Saguão, 2019, p. 117.
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