"Quando a manhã rompeu, toda a cidade estava reunida em volta de minha casa. Descrever a surpresa, o espanto geral, os choros, os gritos e os gemidos com que me torturavam seria coisa difícil, se não mesmo impossível. Os clérigos, sobretudo, e os meus discípulos, particularmente, martirizavam-me com as suas lamentações e os seus insuportáveis soluços. A sua compaixão era para mim mais cruel que o meu ferimento. Sofria mais com a minha confusão do que com a dor. Tristes imagens me vinham ao espírito: com aquela glória que desfrutava havia ainda bem pouco fora com tanta facilidade, num momento, derrubada, destruída!"
Pedro Abelardo, "Carta a um amigo, ou narrativa das minhas desventuras", in Cartas de Abelardo e Heloísa, trad. Franco de Sousa, Lisboa: Editorial Estúdios Cor, s. d., p. 34.
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