"Que dizer da estima pelo ar batido,
pela onda, pelo excesso da matéria
confirmado na ruga da deslocação?
Irrompem no meio, entre substâncias.
Tudo muda o seu jeito de ser
a propósito dum balançar tão seu.
E descerram um vocábulo redondo,
como promessa convincente.
Mas não se diz nada;
o sossego ganha neste lugar.
Como amam a impressão sensível
do trânsito, o vórtice, a ligeireza.
Cresce neles o gosto pelo momentâneo
e pouco fazem com o corpo acidentado.
Sim, desejam a façanha, a pirueta,
o salto mortal, entoar uma palavra,
criar uma tempestade, finalmente lançados
contra os que os comem.
Porém tudo cai esquecido
e uma vez mais mordem o anzol."
Elisabete Marques, Animais de Sangue Frio, 2.ª ed., Lisboa: Língua Morta, 2023, p. 27.
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