Saturday, January 20, 2024

SEBASTIÃO

 


"Julgava-se terminado ou prestes a terminar, o período da gestação, estando a princesa já assistida da parteira. Decidiram, por isso, os sogros não lhe dar conhecimento da morte do marido e impedir que, por imprudência ou doentio empenho de contas novidades, alguém lhe ministrasse a notícia. Quando a visitavam, nunca vestiam trajos de luto, e o mesmo faziam as damas e criadas, que a serviam; mas a proibição de se avistar com o príncipe deu-lhe quási a certeza da dolorosa verdade, que procuravam encobrir. No dia 19, à tarde, começou D. Joana a sentir os primeiros rebates do parto. Por volta da meia noite, apontaram as dores. Do Paço mandaram então aviso a todos os mosteiros para que se fizessem preces; e ao toque do sino grande da Sé, como ordenara o arcebispo, ali se foram juntando o clero da cidade e muitas comunidades religiosas, que depois das duas horas saíram em procissão para a igreja de S. Domingos, levando sob o pálio um braço de S. Sebastião, relíquia que fora roubada durante o saco de Roma, no pontificado de Clemente VII, e Carlos V oferecera ao cunhado." 


Queiroz Velloso, D. Sebastião (1554-1578), Lisboa: Emprêsa Nacional de Publicidade, 1935, pp. 17-18. 

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