"No inverno o vento está como deus
em toda a parte: na cabeleira
verde dos cometas, no extenso
e turbulento sono dos rapazes,
nos cegos fundamentos da alegria.
Peço-lhe que tenha piedade,
que seja amável com os que não dormem
debaixo de telha, que sorria a quem
regressa a casa a desoras - a boca
amarga do fermento da tristeza.
À semelhança de deus, o vento
dança indiferente nas areias."
Eugénio de Andrade, "Os Lugares do Lume", in Poesia, 2.ª edição revista, Porto: Fundação Eugénio de Andrade, 2005, p. 576.
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