"O carinho com que ele encaixotava os seus desenhos, os seus modelos e as suas gravuras! Quando empapelava, extenuado e trémulo, a gravura de Bartolozzi - Cupid making his bow -, disse ele a Teresa, mostrando-lha:
- Lembras-te, filha, quando a tua pobre mãe teimava que este cupido era um Menino Jesus a trabalhar de carpinteiro, com dois anjos aos pés?
Teresa chorava.
- Choras? E eu pensei que te faria sorrir com esta recordação! Que dia aquele! Que dia, e que momento quanto tu colheste a florinha da minha jarra! Se bem reparo em ti, és linda como então. Nem nos meus olhos, nem na minha alma, perdeste a menor das tuas belezas, depois de sete anos! Que singularidade! Parece-me que te adoro hoje mais do que nunca! É o coração que te foge e por isso te ama com mais sofreguidão... Será?"
Camilo Castelo Branco, A Viúva do Enforcado, Porto: Book Cover Editora, 2021, p. 81.
No comments:
Post a Comment