" - E julga-me a mim capaz de reproduzir na tela um rosto que não estou a ver?
- Não, mas de facto você vê muito mais rostos que eu! A sua imaginação e a sua memória estão a abarrotar de caras, emergem de todos os museus que visitou, de todas as grandes obras que estudou. Sei bem que há-de descobrir o que convém à minha visitante e, sobretudo, dar-lhe aquele ar que só o tempo deixa, a patine...
Depois de reflectir na questão, ela perguntou:
- Para que é que é precisa a patine?
- Precisamente para lhe dar o tom do tempo passado. Ela não me disse mais nada, a não ser que o quadro é para ser pendurado sobre o fogão da sala. Mas tenho a impressão de que deverá representar ou simbolizar qualquer esposo que não é já deste mundo, se é que alguma vez o foi. Por isso ela lhe deixa carta branca.
- Sem nada por que me possa guiar - fotografias, ou outros retratos?
- Nada."
Henry James, "A Patine do Tempo", in Seis Histórias de Fantasmas e Espectros, trad. Manuel João Gomes, Lisboa: Editora Arcádia, 1977, p. 190.
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