Monday, September 13, 2021

PERANTE A BARBARIDADE

 


"Mas a história da literatura tem inúmeros exemplos de construções narrativas onde a violência, a injustiça e o mal são encenados não como valores prezados ou rejeitados, mas sim como agentes com que temos de contar nas escolhas morais que fazemos como seres humanos em inter-ação com outros seres humanos. É nesses momentos que nós aprendemos a lidar com os vários rostos da verdade, e sobretudo a decidir por nós próprios qual a verdade que mais perto se encontra de nós e dos limites que traçamos para a nossa tolerância. Porque é cada um de nós quem, de facto, traça as fronteiras das diferentes formas de iniquidade com que convivemos no mundo. Perante a barbaridade, é só de nós e das nossas escolhas que depende o traçamento de uma tolerância que não se confunda com colaboracionismo, conformismo, cumplicidade ou medo."

Manuel Frias Martins, A Lágrima de Ulisses - Regimes da Cultura Literária, Porto: Editora Exclamação, 2021, p. 104. 

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