“A avaliar pelos interesses científicos da época, esta foi sem dúvida a Idade da Luz. Os franciscanos tinham um interesse invulgar pela luz, que consideravam o meio pelo qual Deus trabalhava no mundo material. Mas os monges seguiam também, naturalmente, os desenvolvimentos científicos nessa área. A perspetiva podia ajudar a desvendar o início enigmático do Evangelho de João, que dizia que Deus era vida «e a Vida era a Luz dos homens, a Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam». Quando os monges leram que João Batista não era ele próprio a luz (lux em latim), mas surgia apenas como testemunha da luz (lumen), terão certamente pensado qual a diferença entre os dois tipos de luz (lux e lumen). A maioria dos filósofos, seguindo a opção de Avicena, usava lux para luz e as suas propriedades luminosas em geral, e lumen para casos de luz propagada e dos seus efeitos. Bacon usava os dois termos alternadamente. Mas, na teoria de Grosseteste, os dois tipos de luz eram parte integrante de fases diferentes da Criação. A luz divina imaterial do primeiro Big Bang, que se multiplicara para o exterior infinitamente, era lux, enquanto a luz corpórea que compunha as esferas interiores dos céus e da Terra era lumen. Tinham origens e características diferentes, em certa medida, como os físicos, hoje em dia, podem pensar na luz como tendo as propriedades de uma onda ou de uma partícula.”
Seb Falk, A Idade Média – A verdadeira Idade das Luzes, trad. Elsa T.S. Vieira, Lisboa: Bertrand Editora, 2021, pp. 162-163.
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