"Ficou para trás, quente, a vida,
a marca colorida dos meus olhos, o tempo
em que ardiam no fundo de cada vento
mãos vivas, cercando-me...
Ficou a carícia que não encontro
senão entre dois sonos, a infinita
minha sabedoria em pedaços. E tu, palavra
que transfiguravas o sangue em lágrimas.
Nem sequer um rosto trago
comigo, já trespassado em outro rosto
como esperança no vinho e consumado
em acesos silêncios...
Volto sozinha
entre dois sonos lá atrás, vejo a oliveira
rósea das talhas cheias de água e lua
do longo inverno. Torno a ti que gelas
na minha leve túnica de fogo."
Cristina Campo, O Passo do Adeus, trad. José Tolentino Mendonça, Lisboa: Assírio & Alvim, 2002, p. 25.
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