Saturday, December 11, 2021

E NENHUM AR OSCILA



"não tenho estado nada bem, um retrocesso, 
uma maneira de vencer, de ter as mãos sem penas, 
nenhuma pálpebra invulgar, apenas o bater
das pálpebras, elas agarram-se
viscosas ao sentido, 
e nenhum ar oscila. outras vezes

é o silêncio das ruas, a água 
sobre os seixos, líquida, 
o silêncio entre as bocas
e as roucas paredes; receio, 
sem pavor, o simples
sofrimento. 

tenho errado o que faço, a garatuja, os passos; 
lembrado certas horas, uns lugares
depois outros, 
o sopro de algumas casas, mas também
os poços da lepra, 
as estradas cortadas, as naus
inexistentes."


António Franco Alexandre, "As Moradas 1 & 2", in Poemas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2021, p. 241. 

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