"não tenho estado nada bem, um retrocesso,
uma maneira de vencer, de ter as mãos sem penas,
nenhuma pálpebra invulgar, apenas o bater
das pálpebras, elas agarram-se
viscosas ao sentido,
e nenhum ar oscila. outras vezes
é o silêncio das ruas, a água
sobre os seixos, líquida,
o silêncio entre as bocas
e as roucas paredes; receio,
sem pavor, o simples
sofrimento.
tenho errado o que faço, a garatuja, os passos;
lembrado certas horas, uns lugares
depois outros,
o sopro de algumas casas, mas também
os poços da lepra,
as estradas cortadas, as naus
inexistentes."
António Franco Alexandre, "As Moradas 1 & 2", in Poemas, Lisboa: Assírio & Alvim, 2021, p. 241.
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