"Nunca seria uma santa, mas achava que poderia ser uma mártir, se a matassem depressa.Suportaria que a matassem a tiro, mas não que a mergulhassem em óleo a ferver. Não sabia se conseguiria suportar ser despedaçada por leões ou não. Começou a preparar o seu martírio, imaginando-se vestida com um par de collants, numa grande arena, iluminada por cristãos primitivos suspensos em jaulas de fogo, emitindo uma luz dourada e pulverulenta que tombava sobre ela e sobre os leões. O primeiro leão arremeteu e caiu aos pés dela, convertido. Uma sucessão de leões fez o mesmo. Os leões gostavam tanto dela que acabaram por dormir juntos, e, por fim, os romanos viram-se forçados a queimá-la, mas, para espanto deles, o corpo dela não ardia, e, percebendo que ela era tão difícil de matar, acabaram por lhe cortar a cabeça muito depressa com uma espada, e ela foi de imediato para o Céu. Ensaiou várias vezes esta narrativa, regressando, de cada vez que chegava à porta do Paraíso, para junto dos leões."
Flannery O'Connor, Um Bom Homem É Difícil de Encontrar e Outras Histórias, trad. Paulo Faria, Lisboa: Relógio d'Água, 2015, p. 87.
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