Wednesday, February 14, 2024

ASH WEDNESDAY

 


"As imagens concebidas como uma dupla forma de "celebração" e de "luto". Celebração de um acto profanante (iconoclasta) em relação à "aura" e luto (melancolia) pela perda desse paraíso (idílio) do sentido. "Mise à mort" do signo que assim se vê destituído, encarnado e profanado (enquanto lugar do "sagrado") mas que, ao mesmo tempo, sobre o suporte violento de uma "cruz" (o resto/vestígio da inscrição), se reconstitui como matéria - seja ela a de um corpo morto e apodrecido. Daí esse novo emblema (escudo) sacrílego: o luxo (material) de um corpo que se dá às leis da matéria e do tempo, à podridão do seu novo estatuto de signo. Cristo-crucificado (=signo), o último dos "humanos" ou o primeiro dos "híbridos"."


Fernando Guerreiro, Grãos de Pólen, Lisboa: Língua Morta, 2022, p. 183. 

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