"É esta a única tese materialista. É preciso partir das adições, dos acrescentos, antes de qualquer resultado, antes de pensar no efeito - um pouco como fazem todos os despossuídos do poder. Este minimalismo da adição, sendo planetário, abole o dramatismo das morais e das ideologias. Tem-se confiança ou não. Tudo, como os livros, ou os filmes, ou os filhos entram no mundo, está sempre a ser enviado sem destino, embora seja predestinado. Mesmo aqueles que negam tudo, os que se constelam a utopia ou em Deus, ou na embriaguez, caem na mesma biblioteca infinita que recebe, lado a lado, a Divina Comédia e a Comédia Humana, O Banquete de Platão e a filosofia do toucador de Marquis de Sade. Todos, com as potências próprias, entram no mundo, enchem-no, desarranjam-no, originam choques e absorções de todo o género."
José Bragança de Miranda, Constelações - Ensaios sobre cultura e técnica na contemporaneidade, Lisboa: Documenta, 2023, p. 87.
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