"Rabbi encostou-se à parede; pareceu-me que tinha empalidecido singularmente.
- Não esperava de si uma tal pergunta - respondeu-me. - Quando estava na cruz, o povo gritava-me: «Se és filho de Deus por que não desces?» E vem fazer-me uma pergunta inteiramente semelhante. Posso sair daqui no dia que quiser, visto que não tenho a dizer senão que não sou Jesus de Nazaré. Mas, há uma coisa bem mais cobarde que trair os outros, é trair-se a si próprio.
Fiquei extraordinariamente emocionado e para me defender de tamanha inabilidade insisti mais desastradamente:
- Quando estava na cruz e não descia era um ensinamento mortal. Aqui, o seu sacrifício fica ignorado, perde-se. Quem virá a ter conhecimento dele, alguma vez?
- Pensei que um dia alguém me viria ver e me diria: «Mestre, que posso fazer por si. Estou pronto a testemunhar». É o senhor esse homem?
Não esperava tal pergunta e respondi debilmente:
- Não sou livre, não sou para isso suficientemente livre."
Maurice Sandoz, "O Senhor Rabbi" in O Limite, s. trad., Lisboa: Editorial Organizações, 1957, p. 83.
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