Tuesday, August 9, 2022

COMO CARÍCIA DE BRISA





"A cruz, árvore da minha salvação eterna,
dela me nutro e dela me deleito.
Nas suas raízes eu cresço,
nos seus ramos eu descanso,
o seu orvalho me alegra
e o seu espírito me fecunda como carícia de brisa.
Na sua sombra montei a minha tenda
e longe do tórrido verão,
encontrei este fresco refúgio de orvalho.
Das suas dádivas floresço,
saboreio os seus exóticos frutos que colho às mãos cheias,
porque a mim foram destinados desde o princípio.
Na fome e no meu alimento,
na sede a minha fonte,
na nudez a minha veste,
e as folhas são espírito de vida
pois já não são folhas da figueira.
No temor Deus é minha defesa;
nas dificuldades, meu sustento;
na luta o meu prémio e na Victória o meu troféu.
É meu augusto caminho e minha porta estreita.
É escada de Jacob, por onde sobem os anjos
e no alto se apoia o Senhor.
Imenso como o firmamento, a minha árvore se levanta
da terra ao céu e o seu tronco imortal
se eleva entre a terra e o céu.
É o pilar do universo que tudo sustém,
o esqueleto da terra,
o núcleo do mundo que rege todos os povos.
A sua extremidade superior toca os céus,
as suas raízes se aprofundam na terra
e os seus braços de gigante batem todos os ventos do ar.
Ela é todas as coisas e tudo por toda a parte."


Pseudo-Hipólito, Sobre a Santa Páscoa, in Isidro Pereira Lamelas, Os espaços litúrgicos dos primeiros Cristãos, Fátima: Secretariado Nacional de Liturgia, 2021, pp. 224-225.

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