Tuesday, August 16, 2022

EXPEDIENTE

 


“Com efeito, nada aqui falta do que respeita a tanoaria, ferragens, capelista, tela de linho, estopa e tomentos, tamancos, albardeiro, cereais, legumes, gado de todas as espécies. Tudo em abundância, mas apresentado sem a mínima ordem, posto que obedecendo à série. Não há ruas, nem carreiros, mas linhas tortuosas e arbitrárias à margem das quais se acocoram os negociantes com sua veniaga. Como o beirão é essencialmente regateador, a cada passo se tropeça em magotes de gente. Há que furar como os esquilos, contornar a mó de povo, saltar. A melhor e mais comum forma de locomoção é saltar. Salta-se por cima da mulher que vende colheres de pau, do homenzinho que traz à dependura dos ombros os cacifos de furões, da lavradeira dos afusais de linho, como o arco da ponte D. Luís por cima do Douro. É o expediente aconselhável.”


Aquilino Ribeiro, O Homem da Nave – Serranos, caçadores e fauna vária, 2ª ed., Lisboa: Livraria Bertrand, s.d., p. 238.

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