"Caímos lá todos, procurando às apalpadelas um prazer que o mundo inteiro raivosamente ameaçava. Tínhamos vergonha desse desejo, mas a verdade é que tínhamos de nos entregar a ele! É mais difícil renunciar ao amor do que à vida. Neste mundo gastamos o tempo a matar ou a adorar, e fazemo-lo em simultâneo. «Odeio-te! Adoro-te!» Defendemo-nos, sustentando-nos, passamos a vida ao bípede do século seguinte com frenesi, a todo o custo, como se fosse formidavelmente agradável continuar; como se isso, afinal de contas, nos fizesse eternos. Apesar de tudo desejo de nos beijarmos como se nos coçássemos."
Louis-Ferdinand Céline, Viagem ao Fim da Noite, trad. Aníbal Fernandes, 6.ª ed., Lisboa: Ulisseia, 2014, pp. 78-79.
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