Sunday, December 25, 2022

GUARIDA

 



"Menino da mangedoura
não vi a estrela dos magos
mas os pastores me contaram
o teu recado

Venho do tempo da angústia
por caminhos vigiados
olhar o puro contorno
da tua face

Passei o denso limite
dos campos razos
e colhi húmidas flores
escarlates

molhadas do sangue novo
dos mortos por desagravo
à beira dos horizontes
desencontrados

Trago vestígios de lama
e largas nódoas de sal
e o eco solto na treva
de cada frase

Menino, dá-me guarida
porque te quero louvar"


Glória de Sant'Anna,  Amaranto - Poesia 1951-1983, Lisboa: INCM, 1988, p. 218. 

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