"Na manhã seguinte, o Califa mandou-o chamar, e disse-lhe: «Volta a ler o que já me leste; não me canso de ouvir a promessa que me é feita, e cuja concretização anseio por alcançar».
Imediatamente, o velho assestou as suas lunetas verdes, mas estas logo lhe deslizaram do nariz, ao verificar que os caracteres que lera na véspera haviam sido substituídos por outros de diferente sentido.
«Que se passa?», perguntou o Califa, «porque estás tu tão espantado?»
«Soberano do mundo», redarguiu o velho, «estes sabres contêm hoje uma língua diversa da de ontem».
«Que dizes?», exclamou Vathek; «Mas não importa. Explica-me, se podes, o que se contém nos sabres».
«E maldito sejas tu!, gritou o Califa, num acesso de indignação; «hoje estás privado de entendimento; sai da minha vista; só te será queimada metade da barba, porque ontem tiveste a sorte de adivinhar; quanto aos presentes, eu nunca retiro as minhas dádivas»."
William Beckford, História do Califa Vathek, trad. Mário Cláudio, Porto: Afrontamento, 1982, p. 27.
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