"Regressas pelos espelhos abraçado à névoa de um tempo breve, aproximas-te da superfície, contemplo o rosto emergente, nenúfar lançado no vórtice de círculos concêntricos; recordo um perfume.
Necessário seria conheceres evanescências incrustadas na porta sólida da memória: e sempre me detenho no umbral. Como explicar a recordação de ti, de nós sabemos sempre pouco, nada de nossas auras, eflúvios, deles nos falariam outros quase sempre mudos ou desinteressados. A avidez, atenta, com dedos longos arrepanha, puxa para si, sortilégios abandonados por complacência, selecciona-os, guarda-os como avarento para possibilitar-se pequenas trocas, comércio mesquinho com os que experimentam fome de nós. Por ela te recordo, olho, inebrias, inquietas."
Filomena Cabral, Amatus, Porto: Edições Afrontamento, 1990, p. 11.
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