"A carne, atravessada por tantos e variados sentimentos quantos e quão variados os solutos onde poderiam mergulhá-la, por um sol que ela, depois de ter sido impenetrável, acabasse por fazer correr dentro de si como uma espécie de cinema a que de súbito se abrisse, a carne, pura projecção dum tempo fulgurante cuja consistência fosse momentaneamente a sua, um tempo que sobre ela desterrasse o sol sem que por isso escurecesse porque ele próprio brilharia, carne que através dessa ferida anoitecesse e amanhecesse, quem agora a visse - assim arqueada até ao espírito - julgá-la-ia, irmanada a um relâmpago, entre imagens de que fosse tanto o écran como a raiz."
Luís Miguel Nava, Poesia Completa, Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2002, p. 224.
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