"E o vulto, voltando-se compassadamente, mostrou a Frederico o semblante descarnado e as órbitas vazias de um esqueleto, rebuçado na estamenha de um eremita.
- Anjos todos do céu, vinde em meu auxílio! - clamou Frederico, recuando.
- Bem o precisas! - disse-lhe o fantasma.
Caindo de joelhos, Frederico suplicou misericórdia.
- Não te lembras de mim? - disse a aparição. - Lembra-te do bosque de Joppa!
- Sois aquele santo eremita? - disse Frederico, tremendo. - Que posso eu fazer pelo vosso eterno repouso?
- Foi para te entregares a deleites carnais que te libertaste do cativeiro? Hás esquecido a espada enterrada no bosque e os dizeres nela gravados?
- Não me hei esquecido, não - respondeu Frederico. - dizei-me, bento espírito, que haveis por bem mandar? Que devo eu fazer?
- Esquecer Matilda - respondeu a aparição, esvaindo-se."
Horace Walpole, O Castelo de Otranto, trad. Manuel João Gomes, Lisboa: Editorial Estampa, 1978, p. 158.
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