" - Não, não - atalhou-me. - Quero dizer se pensavas em Deus e nos santos.
- Pensava nos foguetes - disse-lhe.
- Pois aí tens: a gente que vai rezar também dá pouca atenção ao que faz. Uns, pensam no celeiro vazio, nas contribuições, na peste das batatas; outros, tecem no pensamento as piores armadilhas e sentem até a cobiça da roupa boa que os vizinhos possam levar. Tu és muito novo e não entendes ainda certas ruindades. Se um soqueiro, por exemplo, não tiver atenção no que faz, quando tem o fio da navalha ou da sovela perto da mão, corta-se. Pois rezar é como falar com Deus, que vale muitíssimo mais do que um par de socos. E se Deus é como se diz, já deve estar a arranjar um inferno para os que o enganam dessa maneira."
Xosé Neira Vilas, Memórias de um pequeno camponês, Forja, 1977, p. 43.
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