"Por outro lado, Deus é absolutamente inacessível e, portanto, a operação de comparar conhece um interdito. Deus põe no homem o tormento da consciência, que se traduz na exigência de se vencer a si próprio, de não se enganar a si próprio, de procurar ver, de procurar o procurar, tudo excessos que se revelam inúteis. Qohélet não é um homem teórico, mas não pode deixar dizer, para estar a lidar com conceitos. Mas se palavra é, tendencialmente, conceito, também é som e música, não é só articulação. E mesmo na articulação do som pode dar-se o desfazer do conceito conforme o modo de articular, a cor da articulação: fúria, compaixão, grito, pedido, mudez, confissão..."
Maria Filomena Molder, Três Conferências. Primeira - Lança o teu pão sobre as águas (sobre o qohélet/ecclesiastes), Lisboa: edições do Saguão, 2021, p. 95.
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