"Estava a Morte, ali, em pé, diante,
Sim, diante de mim, como serpente
Que dormisse na estrada e de repente
Se erguesse sob os pés do caminhante.
Era de ver a fúnebre bacante!
Que torvo olhar! que gesto de demente!
E eu disse-lhe: «Que buscas, impudente,
Loba faminta, pelo mundo errante?»
- Não temas, respondeu (e uma ironia
Sinistramente estranha, atroz e calma,
Lhe torceu cruelmente a boca fria),
Eu não busco o teu corpo... Era um troféu
Glorioso de mais... Busco a tua alma -
Respondi-lhe: «A minha alma já morreu!»"
Antero de Quental, Sonetos Completos, Porto: Lello & Irmão, 1983, p. 146.
Sim, diante de mim, como serpente
Que dormisse na estrada e de repente
Se erguesse sob os pés do caminhante.
Era de ver a fúnebre bacante!
Que torvo olhar! que gesto de demente!
E eu disse-lhe: «Que buscas, impudente,
Loba faminta, pelo mundo errante?»
- Não temas, respondeu (e uma ironia
Sinistramente estranha, atroz e calma,
Lhe torceu cruelmente a boca fria),
Eu não busco o teu corpo... Era um troféu
Glorioso de mais... Busco a tua alma -
Respondi-lhe: «A minha alma já morreu!»"
Antero de Quental, Sonetos Completos, Porto: Lello & Irmão, 1983, p. 146.
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