Friday, October 13, 2023

PRISÃO

 


"Coro - Vimos agora aqui junto de vós para dizer qualquer coisa em nosso abono. É que não há quem não diga o pior possível do sexo fraco: que somos a ruína completa da humanidade, as culpadas de tudo, das discórdias, das questões, de divergências terríveis, do sofrimento, da guerra. Ora bem: se somos uma peste, porque é que vocês se casam connosco, se de facto somos mesmo uma peste? Porque é que nos proíbem de sair, de pôr o nariz fora e em vez disso se empenham em guardar a peste com tanto cuidado? Mal a pobre mulher sai, e vocês descobrem que ela está fora de portas, ficam completamente doidos; quando deviam era dar graças e esfregar as mãos de contentes por saberem que realmente a peste se tinha ido embora e já não a encontrarem lá dentro. Se passamos a noite em casa de alguém, cansadas de uma festa, não há quem não venha rondar os leitos, à procura dessa peste; e se, por vergonha, nos metemos para dentro, ainda mais desejosos ficam todos de verem a peste debruçar-se outra vez. Em resumo: é evidente que nós somos muito melhores que vocês. E pode-se tirar a prova."

 

Aristófanes, As Mulheres que celebram as Tesmofórias, trad. Maria de Fátima Silva, Lisboa: Edições 70, 2001, p. 99. 

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