"Numa manhã de sair à rua, como esta, como são magníficos os olhos das mulheres que fitam a distância. Os olhos que nos ignoram são ainda mais bonitos do que aqueles que nos observam. É como se perdessem com isso. Quando caminhamos com pressa, também pensamos e sentimos com pressa. Mas não olhes para o céu! Não, é melhor sentir que lá em cima, sobre a cabeça e sobre as casas, paira uma coisa bonita e larga, flutuante, alada, arrebatadora. Trazemos connosco qualquer coisa que tem de ser conferida e entregue, para que possamos apresentar-nos como pessoa de confiança, e neste momento é para mim um prazer apresentar-me como pessoa de confiança. A natureza? Por ora, pode manter-se escondida. Sim, tenho a impressão de que ela se esconde algures por ali, atrás das longas fileiras de casas."
Robert Walser, Os Irmãos Tanner, trad. Isabel Castro Silva, Lisboa: Relógio D'Água, 2009, p. 128.
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