"Nos dias de chuva não é tão simples ver
a orientação dos cumes, os movimentos altos
que se manifestam numa incerteza estranha.
Banha-nos a água, em sossego, como plantas.
Países inteiros deixam-se molhar, assentem
na precipitação. Mas tudo desconhecem
dos caules que estremecem, das ramificações.
Apenas ficam escuros, trabalham, ficam escuros.
Durante as estações tanta coisa quer morrer!
Um aguaceiro, porém, encanta as folhas,
perfuma as argilas, e um dia é consumado
para exemplo da alma, sem sombras, mas difuso."
Carlos Poças Falcão, "Movimento e Repouso", in Arte Nenhuma, Língua Morta/Livraria Snob, 2020, p. 217.
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