"Hora-Abandono. Um desbotar de seda.
Hora em que a Paisagem, de cansaço
Se encosta no luar que lhe dá o braço
E as árvores choram folhas na alameda.
Nódoa sem medo. É um passar a mão
Pelas franjas dum quieto reposteiro
Numa sala fechada. Cavaleiro
Que de falar na Cruz é mais pagão.
É como se a um menino se entregasse
A Paisagem doente pra brincar
E a desfolhá-la toda começasse.
Mão nervosa que aperte e que não cesse,
Boca que se entreabrisse pra falar
E que um gesto de Deus a emudecesse."
Alfredo Guisado, Tempo de Orfeu, Coimbra: Angelus Novus, 2003, p. 131.
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