Sunday, September 22, 2024

LAUTO

 




"Servia-se leitão assado, cujos tassalhos fumegantes exalavam um delicioso aroma. Duarte Vilares, que fora o primeiro a provar o acepipe, declarou sinceramente estar ali um manjar digno dos deuses e que, de facto, não podia morrer um país onde se preparavam tão saborosas iguarias. Só são grandes e duradoiros os povos que comem bem. A superioridade da Inglaterra, por exemplo, residia, não nas qualidades morais dos seus filhos, mas no «roastbeef» e no «jambon de York». A Itália fora batida na Abissínia porque as suas tropas de alimentavam a macarrão; e na alimentação depressiva dos chins, unicamente constituída por grãos de arroz, estava o segredo da vitória japonesa. Portugal vencera sempre, no continente, na Índia e no Brasil, porque levava no seu arsenal de guerra os grandes manjares suculentos, desde a orelheira de porco ao bacalhau com todos os matadores...
- E a derrota de Alcácer Quibir? - interrogou Énio Marinho.
- Foi a consequência de uma debilidade momentânea. Nada de aquilo teria sucedido se os soldados em vez de dez mil guitarras, tivessem levado dez mil farnéis."


Campos Monteiro, As Duas Paixões de Sabino Arruda, 2.ª edição, Porto: Livraria Figueirinhas, 1961, p. 175.

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