"Mas, se acreditares, só te peço uma coisa, não vejas nestes factos qualquer carácter simbólico, qualquer sentido para além deles. Os factos, nada mais querem significar, recuso-me a considerá-los substitutos de outra coisa, recuso-me a concluir que falar em A é uma forma de dizer B, que dizer pombas exprime paz. Um octógono é um octógono, não designa a eternidade. Um quadrado é um quadrado, não manifesta um sinal da terra. Um círculo é um círculo, não simboliza o céu. Por muito que isto pese a Carlos Magno e às suas pretensões de exprimir a missão do rei neste mundo através das igrejas de planta central. Das igrejas de planta central!
No presente texto diz-se somente o que se diz. Nada mais. Não vejam nele uma alegoria. Quando muito, uma alegoria que nada alegoriza.
Já vai sendo tempo, julgo eu, de pôr de lado a ideia de que as coisas em vez de se designarem a si próprias, significam não sei quê. E Alberto Caeiro sabia-o. E também as palavras só se designam a si próprias, claro."
Augusto Abelaira, O Triunfo da Morte, Lisboa: Sá da Costa Editora, 1981, pp. 53-54.
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