"Amigo, envolve nas tuas vestes
o meu corpo e faz-me eterno e imutável
como a lança que trespassou em duas
a tua vida. Quero ser estranho e inteiro
como os deuses que vivem sempre e não
conhecem nunca a morte que foi tua.
conhecem nunca a morte que foi tua.
Escuda-me no azar destas aventuras
entre galeras e combates que são
o vinho e o pão destes dias
entre o mar e a terra distante,
de onde me chega só o som dos pinheiros
quando acaso excede o acometer das ondas
contra o barco. Onde estás o dia não mais
separas da noite que o desmentia, nem
assinalas no céu o rasto azul das gaivotas,
imóveis no seu voo que consagra num abraço
feliz a eternidade e a luz. Conheci-te
e à boca que não mais responde
com voz confusa às minhas palavras.
O coração que os teus braços demanda
desejou possuir o que para sempre
não existe. Sou um homem, esse foi o meu
engano: amar o que a morte também cobiça."
Paulo Teixeira, As Imaginações da Verdade, Lisboa: Editorial Caminho, 1985, pp. 23-24.
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