"Na copa da tua árvore soa a luz ruidosa
e torna para ti cada coisa colorida e vaidosa,
assim te encontram só quando o dia lentamente se apagou.
O crepúsculo, a ternura do espaço que ficou,
põe mil mãos sobre mil cumes em repouso,
e entre eles o desconhecido se torna piedoso.
De outro modo não queres a ti o mundo prender tanto
do que assim, com este suavíssimo gesto que preparas.
Dos seus céus a terra para ti agarras
e sente-la debaixo das dobras do teu manto.
Tens assim um modo discreto de ser.
E todo aquele que a ti sonoros nomes disser,
já esquecido está da tua proximidade.
Das tuas mãos se erguem a altear,
sobe, para aos nossos sentidos a lei dar,
com fronte grave a tua muda capacidade."
Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas, 2.ª ed., trad. Maria Teresa Dias Furtado, Lisboa: Assírio & Alvim, 2020, p. 161.
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