"Pellerin lia todas as obras de estética para descobrir a verdadeira teoria do Belo, convencido de que, quando a tivesse encontrado, faria obras-primas. Rodeava-se de todos os auxiliares imagináveis, desenhos, gessos, modelos, gravuras; e procurava, ralava-se: acusava o tempo, os nervos, o ateliê, saía à rua para achar inspiração, sobressaltava-se por tê-la captado, depois abandonava a obra e sonhava com uma outra que devia ser ainda mais bela. Assim atormentado pelas ânsias de glória e perdendo os dias em discussões, acreditando em mil ninharias, nos sistemas, nas críticas, na importância de um regulamento ou de uma reforma em matéria de arte, não tinha ainda, aos cinquenta anos, produzido mais do que alguns esboços. O seu forte orgulho impedia-o de sofrer qualquer desencorajamento, mas andava sempre irritado, nessa exaltação ao mesmo tempo factícia e natural, própria dos comediantes."
Gustave Flaubert, A Educação Sentimental, trad. João Costa, Lisboa: Relógio D'Água, 2008, p. 36.
No comments:
Post a Comment