"olha-me a paisagem
acolhe-me além da bruma,
dos fogos
e da impaciência dos rios ásperos
sob as pontes rasgando nas margens
a luz obstinada das mãos penadas, prematuras
mãos caridosas qu'embalam
estevas de sombras
no centro descentrado
do humano sem memória
atento à vida do coro
de relâmpagos que o medo não esperou
perfis circundantes
dividindo etéreos os caudais d'outro hemisfério
que distraem marés ignotas do lado de cá doendo
como imóveis frutos por erro às voltas
do fúlgido poente das palavras
a paisagem enfabula em secundário grau
um libelo de unidade, um ego insolado,
déspota vereda
à volta do tempo ameaçado"
Luís Filipe Pereira, Elogio da espera [61+43 poemas], Lisboa: Poética Editora, 2022, p. 119.
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