Wednesday, August 7, 2024

COMO A FOME

 



"Nunca existe presente presente: erra por todo o lado um intervalo morto. Um espaço vazio que é a fome, visto que é «como a fome» e que erra de ser em ser. Um lapso que é como o Advento. Há sempre uma espera que se prolonga entre o perdido e o iminente. O espaço vazio que a fome cava no fundo do corpo torna-se a parede onde se projecta o sonho. Depois, essa gruta,que é um velho maxilar, dá asilo ao mundo da linguagem. Então, é sempre uma imagem viva ausente que assombra por trás da percepção.
Visão que é um passado, é sempre assim o sonho.
Passado sem presença que é como o Ser antes do Ser."


Pascal Quignard, Os Desarçonados, trad. Diogo Paiva, Edições Cutelo, 2024, pp. 216-217.

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