"Saiu o Judas, sentindo mais do que nunca a inoportunidade da sua vida. Perto do chiqueiro estava um monte de aparas e ele deitou-se em cima. Por essa altura, o nevoeiro tornara-se translúcido: através dele via-se o Sol. Pôs o chapéu de palha na cara e espreitou pelas fendas do entrançado para o resplendor branco da luz. «O crescimento traz responsabilidades», disse ele de si para si. Os acontecimentos não seguiam o rumo que previra. A lógica da natureza era demasiado terrível. A misericórdia com uns representava crueldade com outros, e isto perturbava-lhe o sentido da harmonia. Desconfiava que, ao crescer, e ao sentir-se no meio do tempo e não no ponto da circunferência (como nos consideramos quando somos pequenos), seria arrastado por uma espécie de torvelinho."
Thomas Hardy, Judas, o Obscuro, trad. Maria Franco e Cabral do Nascimento, Oeiras: Levoir, 2011, p. 18.
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